Depois de uma noite difícil, sem conseguir pregar os olhos por cinco minutos sequer, eu me levantei da cama e fui tomar um banho frio. Jessica ficou na cama deitada com Harry, eu realmente estava gostando do moleque, até pensei em sair com ele, só nós dois como pai e filho, assim que isso tudo acabasse.
Fiquei algum tempo apenas me molhando, eu não tinha vontade de acabar o banho porque eu sabia que a hora de dar adeus a meu amigo estava próxima e eu queria adiar isso ao máximo.
– Justin? Justin você tá bem? - Ouvi a Jessica me chamar e fechei os olhos respirando fundo.
– Eu to tomando banho. - Respondi sem vontade.
– Não demore muito porque eu ainda tenho que dar banho no Harry e tomar meu banho também. - Jessica gritou mais uma vez.
– Não existe só esse banheiro nessa casa, sabia? - Eu disse já começando a me irritar.
– Tudo bem, então eu te vejo lá embaixo pro café, não demore. - Ela disse parecendo não se importar com minha grosseria e saiu.
Revirei os olhos e continuei deixando a água do chuveiro molhar minha cabeça e descer por meu corpo enquanto pensava no quão sortudo eu sou, quer dizer, eu nunca pensei que alguém tão ruim como eu pudesse conseguir achar uma garota como Jessica, era algo que eu não conseguia entender, talvez estivessem me recompensando por estar tentando vingar a morte da minha mãe ou talvez Deus existisse de verdade e fosse misericordioso comigo por eu já ser infeliz o suficiente.
Suspirei enquanto desligava o chuveiro e começava a me enxugar, enrolei a toalha a cintura e fui pro quarto. Me joguei na cama do jeito que estava, meus cabelos estavam molhados e com certeza encharcaram a cama, mas eu não tava nem aí.
– Poxa cara, você vai me fazer tanta falta. - Sussurrei olhando pro teto.
E era a mais pura verdade, Chaz era o irmão que nunca tive e eu sentia falta dos momentos em que apenas jogávamos conversa fora, mas, infelizmente, ultimamente eu estava distante e muito concentrado apenas em achar Marcos, esquecendo totalmente do que realmente importava, a família e ele era a minha única família.
Olhei para o canto da cama e vi um terno preto, uma calça jeans azul-escuro e uma camisa verde clara, provavelmente Jessica separou pra mim, de algum jeito ela sabia que eu não usaria uma roupa que fosse toda social e eu aprovei a escolha.
Levantei sem vontade e me vesti com dificuldade por causa do ombro, eu não sabia o que fazer com meu cabelo, então eu coloquei todo pra trás de um jeito mais sério e me senti um daqueles mauricinhos, mas aquilo não tinha importância já que pra onde eu iria só os mortos poderiam falar algo.
Respirei fundo e desci as escadas, Harry estava perto da televisão e tentava se levantar pra tocar nas garotas de um clipe do 50 Cent. É, esse garoto pode não ter meu sangue, mas nossos instintos são iguais.
Andei até a cozinha e vi Jessica conversando com Lindsay que estava arrumada como uma senhorita. Ignorei as duas e fui até a geladeira, abri uma lata de cerveja e me sentei no banco em frente ao balcão encarando as garotas.
– Algum problema? - Jessica perguntou sorrindo fraco.
– Por que ela está vestida assim? - Perguntei apontando pra Lindsay.
– Porque ela não poderia usar as roupas que ela tem em um enterro. - Jessie respondeu.
Me remexi na cadeira rindo sem humor.
– Ela não vai. - Eu disse.
– Claro que vai. - Jessie disse idignada.
– Não, ela não vai e não quero ouvir você falar mais nisso. - Me levantei e saí da cozinha com a cerveja na mão.
Vi que Harry agora tentava dançar apoiado na mesa de centro, era um rap de algum cantor qualquer. Me sentei atrás da mesa de centro e fiquei vendo ele pulando e mexendo os braços, ri fraco e olhei para o canto, Jessica entrava na sala.
Revirei os olhos respirando fundo e tomando um gole da cerveja.
– Por que você disse que a Lindsay não vai? - Ela perguntou com as mãos na cintura.
– Eu acho melhor você calar a boca ou prefere ficar em casa também? - Eu disse já irritado.
– Você não pode fazer isso. - Ela disse indignada.
– Fale mais uma palavra e nós vamos ver se eu posso fazer isso ou não. - Eu disse a encarando sério.
Jessica olhou pra mim e balançou a cabeça saindo da sala. Cruzei as pernas e coloquei no centro empurrando Harry de lado e o fazendo cair no chão.
– Fique quieto seu pequeno retardado. - Gritei quando o menino começou a chorar.
Harry conseguiu se levantar e ficar de joelhos, engatinhando, em seguida ele se arrastou até a mesa de centro e se apoiou tentando se levantar, empurrei ele com o pé de novo e o moleque caiu, estava sendo divertido fazer aquilo, estava me distraindo. Mais uma vez ele se levantou e eu deixei ele chegar até meus pés, Harry se apoiou em minha perna e eu tirei fazendo ele se desequilibrar e cair batendo o queixo na quina da mesa.
A cena foi engraçada, mas parecia ter doído de verdade. Me levantei e peguei Harry pelo braço o colocando no sofá, era um milagre Jessica não ter aparecido e aquilo provava que ela não estava por perto. Coloquei a lata gelada no queixo do garoto que começou a gritar e se debater, estava difícil de controlar ele com um braço, eu estava me sentindo um aleijado.
Olhei para os lados e vi que ninguém estava ali, tirei a chupeta da boca de Harry e molhei na cerveja, devolvendo a ele em seguida e funcionou porque o garoto foi calando a boca aos poucos.
Fiquei ali dividindo minha cerveja com Harry e a cada dia eu gostava mais do moleque. Harry acabou dormindo no sofá e eu estava esperando alguém aparecer dizendo que estava na hora de irmos.
– Vamos? - Kenny disse colocando a cabeça na porta.
– Dá pra pegar ele? - Eu disse apontando pra Harry.
Kenny negou rindo e entrou pra pegar o menino. Me levantei e segui ele até o carro, estranhei não ter ninguém lá além de Larry, Corey e Christian, sabe, estou falando de Jessica, ela não estava lá e isso era estranho.
– Hey, pra onde você vai com ele? - Perguntei vendo Kenny ir para outro lugar com Harry.
– Pra onde Lindsay está. - Kenny respondeu e continuou andando.
Dei de ombros e me ajeitei no banco.
Kenny voltou depois de um tempo e nós fomos até a casa dos pais de Chaz. Desci do carro acompanhado por Christian, coloquei óculos escuros, eu não estava afim de arriscar deixar alguém me ver chorar. Vi Jessica com Harry no colo, ela parecia estar brava e assim que me viu veio até mim como um animal enfurecido.
– Por que a boca dele está cheirando a álcool? - Ela gritou chamando a atenção de algumas pessoas.
Olhei ao redor pensando no que dizer e vi Lindsay vindo em nossa direção.
– Por que ela está aqui? - Gritei de volta apontando para Lindsay.
– Não mude de assunto! Você deu bebida a ele? - Ela disse ainda gritando.
– Qual é, eu comecei a beber cedo também, é assim que você garante que seu filho vá ser homem de verdade. - Eu disse dando de ombros e ela empurrou meu ombro bom.
– É assim que você garante que seu filho tenha cirrose e não chegue aos dezoito anos! - Ela gritou e Harry começou a chorar se esticando pra mim.
– Pelo menos o moleque gosta de mim agora. - Eu disse pegando ele.
– Me devolve o garoto, vai que você cisme de deixar ele fumar um baseado ou comer uma bebê vadia qualquer! - Jessica gritou.
– Até parece que você bebeu, não eu. - Eu disse irônico enquanto assistia o ataque desnecessário de Jessica.
– Eu vou respeitar o velório, mas assim que agente chegar em casa, nós vamos conversar. - Ela disse se virando, mas e a puxei pelo braço.
– Não quero ouvir mais nenhuma palavra sobre isso. - Eu disse deixando minha simpatia anterior de lado.
Entrei na casa e passei sem nem cumprimentar os pais de Chaz. Idiotas. Quando o garoto era vivo eles o tratavam como um lixo por ter escolhido me ajudar, agora que ele morreu o consideram um herói por sempre ter enchido o rabo deles de dinheiro, dinheiro esse que eu dava pra ajudar esses malditos.
Olhei para o caixão e lá estava o corpo, branco e sem vida, sem sangue e com buracos que agora estava cobertos por tecidos e flores. Chaz parecia estar em paz, eu já vi muitos cadáveres que congelaram aterrorizados na morte e eles ficaram estranhos e apavorantes no velório, com aquela expressão de desespero, era totalmente o contrário do que eu via agora, meu amigo parecia ter ido para um bom lugar e eu ficava mais aliviado por isso, apesar de que, nada iria suprir a perder ele.
Que coisa gay! Eu ei que estou parecendo um viadinho apaixonado, mas Chaz era meu melhor amigo e o único cara que eu amei. Tudo bem, eu sei que tudo o que eu estou é realmente gay, mas acho que alguém entende o que eu quero dizer, eu amava Chaz como um irmão, um pai, um amigo e quando ele se foi eu perdi tudo isso, perdi minha família. Eu ainda tenho meu pai, mas ele e nada são a mesma coisa, porque um cara que depende do filho mais velho pra encher a barriga da esposa e dos dois filhos pequenos, não me parece ser o melhor exemplo de pai.
E sim, eu me arrependo por não ter dito a Chaz que ele era importante, mas porra, é tão difícil dizer essas coisas pra alguém. Isso se chama orgulho e eu sei que esse tipo de orgulho é um problema porque todos as pessoas que eu gosto se vão simplesmente porque eu não consigo dizer que elas são importantes e quanto mais elas significam pra mim, mais eu piso e ignoro porque amor é uma coisa que eu odeio sentir.
Já estava quase na hora de irmos ao cemitério e agora nós iríamos nos despedir com aquele monte de discurso falso de pessoas falsas e eu sinceramente não aguentaria ouvir toda a mentira calado.
O pai de Chaz resolveu fazer as honras e se pôs ao lado do caixão, começando a ler um papel que tirara do bolso.
– Bem, esse é um dia triste porque nós perdemos um amigo, um filho, um grande garoto, um irmão...
– A galinha dos ovos de ouro. - Eu disse o interrompendo e todos olharam pra mim.
Permaneci com minha expressão neutra enquanto Jessica me cutucava e sussurrava pra que eu pedisse desculpas.
– Me desculpe por isso, ele estar meio transtornado. - Jessica disse e eu revirei os olhos.
– Tudo bem, eu entendo. - O velho lá da frente falou e continuou a ler o papel. - Chaz, era o melhor filho que alguém poderia ter, por vários motivos...
– Sustentar vocês com certeza é um deles. - Eu disse e todos me olharam de novo.
– Para com isso, Justin. - Jessica sussurrou e eu tirei os óculos escuros.
– Qual é Jessica, todos nós aqui sabemos que ninguém nunca ligou pra ele, que tipo de pai escreve e decora um texto para o velório do filho que ele supostamente ama? - Eu gritei para todos ouvirem. - Ah e sem contar que você só tentava um contato com ele quando precisava de dinheiro pra sustentar seu maldito vício em apostas, você pensa que eu não sei que você perdeu sua esposa em um jogo e depois ganhou essa vadia aí? Pensa que eu não sei que essa mulher não é a mãe de Chaz nem aqui e nem no puteiro de onde ela veio. Deus sabe o porquê de Chaz ter escolhido ficar na minha casa, ele poderia estar morto há muito tempo porque eu tenho certeza de que você apostaria seu filho.
Todo mundo continuou olhando pra mim, Jessica tentava me puxar enquanto Harry chorava por eu estar gritando, mas eu não me importei, eu só queria dizer tudo o que guardei todo o tempo.
– Eu agaradeço por terem me acolhido aqui quando eu era pequeno, vocês eram boas pessoas, uma família exemplar, mas eu ouvi vocês dois falando sobre a mãe de Chaz e como esse maldito vício fez ela ser dada a alguns homens quando meu amigo era só um bebê e eu me arrependo por nunca ter dito nada a ele. Senhora Somers, você se lembra daquela noite? Aquela noite me que você foi até meu quarto, eu tinha doze anos e eu estava passando um tempo aqui enquanto minha mãe viajava pra ver minha vó... Agente transou a noite toda e o corno do seu marido estava no quarto ao lado... Otário.
– Já chega! - O velho gritou vindo em minha direção e me acertando com um soco.
– Filho da puta. - Eu disse rindo enquanto tocava minha bochecha, local onde ele acertou.
Fui em cima dele e o acertei com um soco também. As pessoas se aproximaram e eu senti alguém me puxar pela cintura, meu ombro estava doendo, mas eu não estava nem aí pra isso, só queria acertar aquele corno.
– Seu corno, foi chifrado por sua vadiazinha e uma criança de doze anos. - Eu disse rindo e o velho parecia estar louco de ódio.
A mulher parecia preocupada com o que o marido faria depois e sinceramente eu esperava que ele desse uns belos tapas nela, então ela o denunciaria, ele iria preso e, sem Chaz, ela teria que voltar para o puteiro de onde veio.
Todos tentaram contornar a situação e levaram o caixão para o carro da funerária. Chegamos ao cemitério e eu estava louco pra jogar aquele casal de hipócritas dentro de uma daquelas valas abertas.
Um padre fez a cerimônia e todos demos o último adeus, depois nós rezamos pela alma de Chaz e cantamos uma música.
E então eu coloquei os óculos. Eu estava chorando e lutava pra não gritar de desespero, era o fim e só agora eu tinha me tocado disso, eu nunca mais veria ele e isso era horrível.
Mordi os lábios e fechei os olhos quando os coveiros começaram a cobrir o caixão com areia. Em algum tempo eles já estavam colocando a lápide com as gravuras "Aqui jaz Charles Graver Thomas Lee Somers, o melhor filho, amigo e irmão."
Que povo mais sem criatividade.
Todos estávamos saindo do cemitério e nos dirigindo aos nossos carros quando barulhos de tiro me chamaram a atenção. Olhei ao redor e vi um carro escuro, dois homens saiam pelo teto solar, atirando e no banco de trás estavam Ryan e... Camila?
Fiquei algum tempo apenas me molhando, eu não tinha vontade de acabar o banho porque eu sabia que a hora de dar adeus a meu amigo estava próxima e eu queria adiar isso ao máximo.
– Justin? Justin você tá bem? - Ouvi a Jessica me chamar e fechei os olhos respirando fundo.
– Eu to tomando banho. - Respondi sem vontade.
– Não demore muito porque eu ainda tenho que dar banho no Harry e tomar meu banho também. - Jessica gritou mais uma vez.
– Não existe só esse banheiro nessa casa, sabia? - Eu disse já começando a me irritar.
– Tudo bem, então eu te vejo lá embaixo pro café, não demore. - Ela disse parecendo não se importar com minha grosseria e saiu.
Revirei os olhos e continuei deixando a água do chuveiro molhar minha cabeça e descer por meu corpo enquanto pensava no quão sortudo eu sou, quer dizer, eu nunca pensei que alguém tão ruim como eu pudesse conseguir achar uma garota como Jessica, era algo que eu não conseguia entender, talvez estivessem me recompensando por estar tentando vingar a morte da minha mãe ou talvez Deus existisse de verdade e fosse misericordioso comigo por eu já ser infeliz o suficiente.
Suspirei enquanto desligava o chuveiro e começava a me enxugar, enrolei a toalha a cintura e fui pro quarto. Me joguei na cama do jeito que estava, meus cabelos estavam molhados e com certeza encharcaram a cama, mas eu não tava nem aí.
– Poxa cara, você vai me fazer tanta falta. - Sussurrei olhando pro teto.
E era a mais pura verdade, Chaz era o irmão que nunca tive e eu sentia falta dos momentos em que apenas jogávamos conversa fora, mas, infelizmente, ultimamente eu estava distante e muito concentrado apenas em achar Marcos, esquecendo totalmente do que realmente importava, a família e ele era a minha única família.
Olhei para o canto da cama e vi um terno preto, uma calça jeans azul-escuro e uma camisa verde clara, provavelmente Jessica separou pra mim, de algum jeito ela sabia que eu não usaria uma roupa que fosse toda social e eu aprovei a escolha.
Levantei sem vontade e me vesti com dificuldade por causa do ombro, eu não sabia o que fazer com meu cabelo, então eu coloquei todo pra trás de um jeito mais sério e me senti um daqueles mauricinhos, mas aquilo não tinha importância já que pra onde eu iria só os mortos poderiam falar algo.
Respirei fundo e desci as escadas, Harry estava perto da televisão e tentava se levantar pra tocar nas garotas de um clipe do 50 Cent. É, esse garoto pode não ter meu sangue, mas nossos instintos são iguais.
Andei até a cozinha e vi Jessica conversando com Lindsay que estava arrumada como uma senhorita. Ignorei as duas e fui até a geladeira, abri uma lata de cerveja e me sentei no banco em frente ao balcão encarando as garotas.
– Algum problema? - Jessica perguntou sorrindo fraco.
– Por que ela está vestida assim? - Perguntei apontando pra Lindsay.
– Porque ela não poderia usar as roupas que ela tem em um enterro. - Jessie respondeu.
Me remexi na cadeira rindo sem humor.
– Ela não vai. - Eu disse.
– Claro que vai. - Jessie disse idignada.
– Não, ela não vai e não quero ouvir você falar mais nisso. - Me levantei e saí da cozinha com a cerveja na mão.
Vi que Harry agora tentava dançar apoiado na mesa de centro, era um rap de algum cantor qualquer. Me sentei atrás da mesa de centro e fiquei vendo ele pulando e mexendo os braços, ri fraco e olhei para o canto, Jessica entrava na sala.
Revirei os olhos respirando fundo e tomando um gole da cerveja.
– Por que você disse que a Lindsay não vai? - Ela perguntou com as mãos na cintura.
– Eu acho melhor você calar a boca ou prefere ficar em casa também? - Eu disse já irritado.
– Você não pode fazer isso. - Ela disse indignada.
– Fale mais uma palavra e nós vamos ver se eu posso fazer isso ou não. - Eu disse a encarando sério.
Jessica olhou pra mim e balançou a cabeça saindo da sala. Cruzei as pernas e coloquei no centro empurrando Harry de lado e o fazendo cair no chão.
– Fique quieto seu pequeno retardado. - Gritei quando o menino começou a chorar.
Harry conseguiu se levantar e ficar de joelhos, engatinhando, em seguida ele se arrastou até a mesa de centro e se apoiou tentando se levantar, empurrei ele com o pé de novo e o moleque caiu, estava sendo divertido fazer aquilo, estava me distraindo. Mais uma vez ele se levantou e eu deixei ele chegar até meus pés, Harry se apoiou em minha perna e eu tirei fazendo ele se desequilibrar e cair batendo o queixo na quina da mesa.
A cena foi engraçada, mas parecia ter doído de verdade. Me levantei e peguei Harry pelo braço o colocando no sofá, era um milagre Jessica não ter aparecido e aquilo provava que ela não estava por perto. Coloquei a lata gelada no queixo do garoto que começou a gritar e se debater, estava difícil de controlar ele com um braço, eu estava me sentindo um aleijado.
Olhei para os lados e vi que ninguém estava ali, tirei a chupeta da boca de Harry e molhei na cerveja, devolvendo a ele em seguida e funcionou porque o garoto foi calando a boca aos poucos.
Fiquei ali dividindo minha cerveja com Harry e a cada dia eu gostava mais do moleque. Harry acabou dormindo no sofá e eu estava esperando alguém aparecer dizendo que estava na hora de irmos.
– Vamos? - Kenny disse colocando a cabeça na porta.
– Dá pra pegar ele? - Eu disse apontando pra Harry.
Kenny negou rindo e entrou pra pegar o menino. Me levantei e segui ele até o carro, estranhei não ter ninguém lá além de Larry, Corey e Christian, sabe, estou falando de Jessica, ela não estava lá e isso era estranho.
– Hey, pra onde você vai com ele? - Perguntei vendo Kenny ir para outro lugar com Harry.
– Pra onde Lindsay está. - Kenny respondeu e continuou andando.
Dei de ombros e me ajeitei no banco.
Kenny voltou depois de um tempo e nós fomos até a casa dos pais de Chaz. Desci do carro acompanhado por Christian, coloquei óculos escuros, eu não estava afim de arriscar deixar alguém me ver chorar. Vi Jessica com Harry no colo, ela parecia estar brava e assim que me viu veio até mim como um animal enfurecido.
– Por que a boca dele está cheirando a álcool? - Ela gritou chamando a atenção de algumas pessoas.
Olhei ao redor pensando no que dizer e vi Lindsay vindo em nossa direção.
– Por que ela está aqui? - Gritei de volta apontando para Lindsay.
– Não mude de assunto! Você deu bebida a ele? - Ela disse ainda gritando.
– Qual é, eu comecei a beber cedo também, é assim que você garante que seu filho vá ser homem de verdade. - Eu disse dando de ombros e ela empurrou meu ombro bom.
– É assim que você garante que seu filho tenha cirrose e não chegue aos dezoito anos! - Ela gritou e Harry começou a chorar se esticando pra mim.
– Pelo menos o moleque gosta de mim agora. - Eu disse pegando ele.
– Me devolve o garoto, vai que você cisme de deixar ele fumar um baseado ou comer uma bebê vadia qualquer! - Jessica gritou.
– Até parece que você bebeu, não eu. - Eu disse irônico enquanto assistia o ataque desnecessário de Jessica.
– Eu vou respeitar o velório, mas assim que agente chegar em casa, nós vamos conversar. - Ela disse se virando, mas e a puxei pelo braço.
– Não quero ouvir mais nenhuma palavra sobre isso. - Eu disse deixando minha simpatia anterior de lado.
Entrei na casa e passei sem nem cumprimentar os pais de Chaz. Idiotas. Quando o garoto era vivo eles o tratavam como um lixo por ter escolhido me ajudar, agora que ele morreu o consideram um herói por sempre ter enchido o rabo deles de dinheiro, dinheiro esse que eu dava pra ajudar esses malditos.
Olhei para o caixão e lá estava o corpo, branco e sem vida, sem sangue e com buracos que agora estava cobertos por tecidos e flores. Chaz parecia estar em paz, eu já vi muitos cadáveres que congelaram aterrorizados na morte e eles ficaram estranhos e apavorantes no velório, com aquela expressão de desespero, era totalmente o contrário do que eu via agora, meu amigo parecia ter ido para um bom lugar e eu ficava mais aliviado por isso, apesar de que, nada iria suprir a perder ele.
Que coisa gay! Eu ei que estou parecendo um viadinho apaixonado, mas Chaz era meu melhor amigo e o único cara que eu amei. Tudo bem, eu sei que tudo o que eu estou é realmente gay, mas acho que alguém entende o que eu quero dizer, eu amava Chaz como um irmão, um pai, um amigo e quando ele se foi eu perdi tudo isso, perdi minha família. Eu ainda tenho meu pai, mas ele e nada são a mesma coisa, porque um cara que depende do filho mais velho pra encher a barriga da esposa e dos dois filhos pequenos, não me parece ser o melhor exemplo de pai.
E sim, eu me arrependo por não ter dito a Chaz que ele era importante, mas porra, é tão difícil dizer essas coisas pra alguém. Isso se chama orgulho e eu sei que esse tipo de orgulho é um problema porque todos as pessoas que eu gosto se vão simplesmente porque eu não consigo dizer que elas são importantes e quanto mais elas significam pra mim, mais eu piso e ignoro porque amor é uma coisa que eu odeio sentir.
Já estava quase na hora de irmos ao cemitério e agora nós iríamos nos despedir com aquele monte de discurso falso de pessoas falsas e eu sinceramente não aguentaria ouvir toda a mentira calado.
O pai de Chaz resolveu fazer as honras e se pôs ao lado do caixão, começando a ler um papel que tirara do bolso.
– Bem, esse é um dia triste porque nós perdemos um amigo, um filho, um grande garoto, um irmão...
– A galinha dos ovos de ouro. - Eu disse o interrompendo e todos olharam pra mim.
Permaneci com minha expressão neutra enquanto Jessica me cutucava e sussurrava pra que eu pedisse desculpas.
– Me desculpe por isso, ele estar meio transtornado. - Jessica disse e eu revirei os olhos.
– Tudo bem, eu entendo. - O velho lá da frente falou e continuou a ler o papel. - Chaz, era o melhor filho que alguém poderia ter, por vários motivos...
– Sustentar vocês com certeza é um deles. - Eu disse e todos me olharam de novo.
– Para com isso, Justin. - Jessica sussurrou e eu tirei os óculos escuros.
– Qual é Jessica, todos nós aqui sabemos que ninguém nunca ligou pra ele, que tipo de pai escreve e decora um texto para o velório do filho que ele supostamente ama? - Eu gritei para todos ouvirem. - Ah e sem contar que você só tentava um contato com ele quando precisava de dinheiro pra sustentar seu maldito vício em apostas, você pensa que eu não sei que você perdeu sua esposa em um jogo e depois ganhou essa vadia aí? Pensa que eu não sei que essa mulher não é a mãe de Chaz nem aqui e nem no puteiro de onde ela veio. Deus sabe o porquê de Chaz ter escolhido ficar na minha casa, ele poderia estar morto há muito tempo porque eu tenho certeza de que você apostaria seu filho.
Todo mundo continuou olhando pra mim, Jessica tentava me puxar enquanto Harry chorava por eu estar gritando, mas eu não me importei, eu só queria dizer tudo o que guardei todo o tempo.
– Eu agaradeço por terem me acolhido aqui quando eu era pequeno, vocês eram boas pessoas, uma família exemplar, mas eu ouvi vocês dois falando sobre a mãe de Chaz e como esse maldito vício fez ela ser dada a alguns homens quando meu amigo era só um bebê e eu me arrependo por nunca ter dito nada a ele. Senhora Somers, você se lembra daquela noite? Aquela noite me que você foi até meu quarto, eu tinha doze anos e eu estava passando um tempo aqui enquanto minha mãe viajava pra ver minha vó... Agente transou a noite toda e o corno do seu marido estava no quarto ao lado... Otário.
– Já chega! - O velho gritou vindo em minha direção e me acertando com um soco.
– Filho da puta. - Eu disse rindo enquanto tocava minha bochecha, local onde ele acertou.
Fui em cima dele e o acertei com um soco também. As pessoas se aproximaram e eu senti alguém me puxar pela cintura, meu ombro estava doendo, mas eu não estava nem aí pra isso, só queria acertar aquele corno.
– Seu corno, foi chifrado por sua vadiazinha e uma criança de doze anos. - Eu disse rindo e o velho parecia estar louco de ódio.
A mulher parecia preocupada com o que o marido faria depois e sinceramente eu esperava que ele desse uns belos tapas nela, então ela o denunciaria, ele iria preso e, sem Chaz, ela teria que voltar para o puteiro de onde veio.
Todos tentaram contornar a situação e levaram o caixão para o carro da funerária. Chegamos ao cemitério e eu estava louco pra jogar aquele casal de hipócritas dentro de uma daquelas valas abertas.
Um padre fez a cerimônia e todos demos o último adeus, depois nós rezamos pela alma de Chaz e cantamos uma música.
E então eu coloquei os óculos. Eu estava chorando e lutava pra não gritar de desespero, era o fim e só agora eu tinha me tocado disso, eu nunca mais veria ele e isso era horrível.
Mordi os lábios e fechei os olhos quando os coveiros começaram a cobrir o caixão com areia. Em algum tempo eles já estavam colocando a lápide com as gravuras "Aqui jaz Charles Graver Thomas Lee Somers, o melhor filho, amigo e irmão."
Que povo mais sem criatividade.
Todos estávamos saindo do cemitério e nos dirigindo aos nossos carros quando barulhos de tiro me chamaram a atenção. Olhei ao redor e vi um carro escuro, dois homens saiam pelo teto solar, atirando e no banco de trás estavam Ryan e... Camila?
O que estao achando?
VÃO SEQUESTRAR A JÉSSICA, TO ATÉ VENDO AAAAAAAAAAAAAAH
ResponderExcluirOMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMG :o QUE LOUCO U.U TA MT FOODA. JUSTIN SEU IDIOTA (SOAQUINEU.U) QUE VONTADE DE QUEBRAR A CARA DELE U.U
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